Conheça Kiolo, o homem que transforma fotografia em arte moderna

Todos os aspectos que existem na arte contemporânea, existem também na personalidade desse artista. Conversamos com Lucas Ferraz, conhecido como Kiolo – um apelido de infância que não tem nenhuma relação com a cultura oriental. Pois é, nome único, como artista gosta, e seu público também. Na sala de Joyce Pascowitch há uma obra sua, na casa de Claudia Leitte também, mas antes de adentrar no infinito particular de personalidades, ele põe seu trabalho no mundo de quem tem olhos virados, e brilhantes, para a fotografia. O registro de um momento, ganha uma grandiosidade icônica pelas suas lentes, isso vira imagem, que vira arte. Nesse bate-papo ele decifra a inspiração que tanto encanta na Bahia – mas desvenda o que existe em todo o mundo, elege seu melhor trabalho, fala sobre cores e de quebra cita seus nomes preferidos na arquitetura e na decoração. A conversa é com alguém que produz na nossa Bahia. 

Tamyr Mota: Como e quando nasceu a vontade de capturar imagens e transformá-las em arte?
Lucas Ferraz – Kiolo
: Sempre gostei muito de desenhar e isso me levou a fazer faculdade pra design gráfico. No curso, tinham várias disciplinas que complementavam os meus interesses, a fotografia foi uma delas. Minha mãe sempre gostou muito de fotografia também e acredito que o dom esteja no sangue, juntou o hereditário com o técnico que aprendi na faculdade! Agora transformar fotografia em arte é exatamente a forma como eu vejo as coisas, eu enxergo enquadrado, fico atento a tudo: simetrias, "encaixes", formas alinhadas, geometrias, texturas em evidência, contraste de cores e acredito que todas essas percepções juntas formam um resultado artístico.

TM: Qual a fotografia que lhe deu maior trabalho para ser feita?
Kiolo
: Não tenho uma foto especificamente. Acho que as fotos mais difíceis são quando envolvem ser humano. Eles têm expressão e vontade própria. Registrar pessoas e colocá-las da forma como o fotógrafo imagina é bem complicado. A fotografia de moda, por exemplo, exige uma série de detalhes necessários para que o resultado fique extraordinário. Além do talento do fotógrafo e da sua ótica, ainda precisa de make, cabelo, figurino e acima de tudo, beleza e disposição do (a) modelo.



TM: A Bahia inspira? Quais outras cidades e estados lhe arrancam inspiração?
Kiolo
: A Bahia é uma fonte de inspiração inesgotável. Aliás, o Brasil também! Nós (brasileiros), por uma insatisfação econômica e política com o país, acabamos olhando muito pra fora como se tudo em outro país fosse melhor e mais legal, mas acredito muito no nosso país. Aqui temos paisagens incríveis, temos um povo acolhedor, temos fauna, flora, turismo, eventos, cultura, música e muita coisa a ser explorada. Ainda quero conhecer cidades com culturas tão ricas e cenários tão lindos, como a Bahia. Natal, Alagoas, Fortaleza, Belém, Manaus e muito mais. Quando o assunto é "MUNDO", acabei de voltar de Nova York, onde fiz fotos dos mais variados cenários e elementos. NY tem tudo em um só lugar! Na Europa, amo Roma e Paris, um infinito de possibilidades.

TM: As cores na arte e na fotografia deixam um espaço mais...
Kiolo
: ...alegre e com personalidade. A fotografia em preto e branco é mega conceitual, mas tenho um estilo mais puxado pro colorido. Acho que até pela formação e trabalho cotidiano com o design, existe em mim um apreço muito grande pelas cores.

TM: Em suas andanças, o que mais já chamou atenção das suas lentes?
Kiolo
: Costumo dizer que tudo o que gosto muito, acaba virando uma série. Adoro registrar fachadas de casas de interior, bicicletas, portas, carros antigos e detalhes como para-choques, rodas, retrovisores, curvas de chaparia, etc.

TM: Algum ritual antes de começar a fotografar?
Kiolo
: Gosto de fotografar quando estou tranquilo, sem nada pra resolver e sem pressão de entregar algum outro trabalho. O principal ritual é não ter nada na cabeça e deixar os olhos capturarem tudo sem limite. Minhas melhores fotos foram feitas na tranquilidade de não TER que fazer aquilo. É claro que quando tem um job comercial e preciso registrar elementos pré-definidos, já chego focado e faço o meu trabalho. Mas quando se trata de foto artística, basta um belo dia ao nascer do sol ou quando ele se põe. Gosto das luzes menos intensas...

TM: O Brasil é um país que respira arte?
Kiolo
: Sem dúvida! O Brasil tem música, cinema, teatro, fotografia, escultura, dança, canto, tem tudo. A arte está por toda parte, não só no que se diz respeito ao que está claro que é arte, mas também no subjetivo! Um belo prédio cortando o céu é arte feita por um arquiteto. E assim vai...

TM: Ter seu trabalho na Casa Cor Bahia (em Salvador e Ilhéus) tem lhe rendido bons frutos?
Kiolo
: Sim! Como todo artista, gosto muito de ver meu trabalho contracenando com outros elementos e isso é muito gratificante. Daí surge a venda, o contato e a divulgação. Poder participar de mostras do mesmo segmento, porém com personalidades distintas, me dá a possibilidade de mostrar como o meu trabalho é versátil. Na Casa Cor Salvador, no ambiente de Eliane e Laís Kruschewsky, as fotos expostas são texturas, estruturas metálicas e elementos "frios". Já no ambiente de Roberto Leal Neto, a temática é hipismo. Minhas fotos são de cavalos, elementos do esporte, obstáculos das provas, textura do pelo de animal, rodas de carroças e por aí vai. Na Casa Cor Ilhéus é uma exposição coletiva, tive autonomia pra escolher o que eu queria, então usei fotos mais vernaculares, fotos modernas como as recém-capturadas em Nova York e até uma foto de sombreiros coloridos que fiz na Feira de Design de Milão no ano passado. Coisas completamente diferentes feitas pelo mesmo autor. 

TM: Qual sua fotografia mais memorável?
Kiolo
: Como falei anteriormente, na feira de Milão, fiz uma foto de uma bicicleta branca encostada em uma parede branca. Até então nada demais, mas a bicicleta era retrô com elementos em couro e metal o que deu um aspecto super bonito. A parede tinha uma textura meio rugosa contrastando com a superfície lisa da bicicleta e isso resultou num conjunto lindo. O carinho que tenho por esta foto é que ela foi a primeira foto que vendi e já fiz umas 3 ou 4 repetições, inclusive a maior delas foi adquirida por Cláudia Leitte, através da Galeria Goca Moreno, no shopping Paseo Itaigara.



TM: A beleza humana não chama sua atenção para a fotografia?
Kiolo
: A minha carreira como fotógrafo é nova se comparada com a carreira como designer. Nunca tive a oportunidade de fotografar gente e, sinceramente, não sei se tenho tato pra isso. Mas tenho me permitido fotografar de tudo e recentemente até fiz uma fotografia comercial para uma empresa de Táxi Aéreo. Nunca tinha feito, fui lá experimentar e o resultado ficou bem legal. Se um dia rolar de fotografar a beleza humana, estarei a postos para experimentar.

TM: Quais são os nomes da arquitetura e da decoração que lhe arrancam admiração?
Kiolo
: Muitos! Na arquitetura e decoração, gosto muito de David Bastos, Isay Weinfield, Roberto Migoto, José Ricardo Basiches, Índio da Costa, Dado Castello Branco, e etc.
 
Fotos: reprodução.

 

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