Um pouco mais sobre Christian Cravo, que tem a arte no seu DNA.

Os artistas plásticos costumam dizer que não são bons de palavras. Christian Cravo diz que o fundamental são as imagens, pois através delas, se diz tudo. Contudo, fomos de encontro a esse pensamento, e batemos um papo com o fotógrafo baiano, cidadão do mundo, que hoje ocupa um lugar de muito reconhecimento quando o assunto é arte contemporânea e fotografia no Brasil. Dois minutos de conversa, e já é notório perceber o quão centrado é Christian. Ele não brinca com assunto sério, não foge das emoções, e também não exagera em dados e números. Além disso é mestre em ser exigente e nunca sartisfeito. "Meus momentos de paz, são com a minha família", assume, derretido, mas contido. Confiram:  

Tamyr Mota: Filho de um fotógrafo e neto de um escultor. A vida tinha que te levar para o caminho da arte. Concorda?

Christian Cravo: Não necessariamente, mas o contato com o universo artístico favorece as possibilidades e o entendimento sobre como de fato é a vida de um artista. Suas responsabilidades e compromissos. Caribé já dizia que a vida do artista é acordar cedo, se alimentar bem e trabalhar todos os dias. É um equívoco atrelar a arte a boemia.

TM: Você nasceu em Salvador, viveu na Dinamarca e hoje mora em São Paulo. Quais as influências desses lugares na sua obra?

CC: A Bahia é a grande fonte de inspiração e energia! Por isso  sempre volto. Adoro a simplicidade que encontro aqui, acho fundamental para minha cabeça, para minhas meninas (A mulher Adriana e as filhas Sophia e Stella). Sem falar que sou viciado em acarajé! Aliás, digo que comida baiana é a melhor do mundo! A Dinamarca é o berço que me acolheu e me deu disciplina, que talvez não tivesse tido crescendo nos trópicos. E São Paulo é a cidade do trabalho.

TM: A impressão que temos é de que você é um homem inquieto. Mas ao mesmo tempo, muito calmo e sereno. Como se define?

CC: Não sou calmo, nem sereno (risos), sou muito inquieto!  Leonino. Competitivo e dinâmico. Meus momentos de paz são com a minha família. Adriana, minha mulher, é muito calma. É quem me equilibra. Ela contribui intelectualmente para o desenvolvimento dos projetos. Planeja, guia e transforma em palavras o que em mim é energia criativa. O cineasta que fez o filme "Sonho de Darwin" presente na mostra, o Marco, brinca que o nome do filme que esta fazendo sobre minha história deveria ser "Nunca Satisfeito"… acho engraçado. Mas reconheço que sou muito exigente. Para um clique que me satisfaça, as vezes faço 5 mil imagens. Sem exagero...

TM: Cidadão do mundo, na exposição 'Luz e Sombra', em cartaz no Palacete das Artes, aqui em Salvador, você põe seus olhos diante da África. Como surgiram as imagens que compõem a mostra?

CC: O trabalho da África, assim como outros, é uma construção mental. Ele inicia em uma pesquisa e se desdobra nas viagens. Quando vou a Tanzânia sei exatamente o que estou buscando, como o caso da foto da migração dos gnus. Mas obviamente sou surpreendido por belas oportunidades fotográficas. Para este projeto foram 10 viagens para diferentes países. Na maioria das vezes fui mais de uma vez a cada um deles. Estava em um momento de luto (se refere a morte do seu Pai e ao terremoto que atiniu o Haiti, onde trabalhava). Busquei contemplar a natureza para fotografar e encontrar caminhos para minha própria vida. O final de um projeto é o fechamento de um ciclo.

Fotos: reprodução.

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