Antonio Peres Júnior fala sobre a importância do acordo de livre comércio firmado pelo Mercosul e a União Europeia

Em entrevista ao Alô Alô Bahia, o Cônsul da Romênia na Bahia e presidente da ABRESCO, Antonio Peres Júnior, falou sobre a importância do acordo de mercado livre firmado, ontem (28), pelo Mercosul e a União Europeia. Antonio nos recebeu em seu escritório, no Horto Florestal, onde respondeu as seguintes perguntas. Confere!

Alô Alô Bahia – Como você, como Cônsul da Romênia na Bahia – e, portanto com um olhar importante sobre os dois lugares – enxerga o acordo comercial fechado nesta sexta-feira, após 20 anos de negociação?

Antonio Peres Junior - Este acordo é objeto de longeva negociação e debates, por exatas duas décadas, já que teve início em junho de 1999. Durante este período, estivemos à ponto de firmá-lo por várias vezes, e por várias vezes, óbices das mais diversas matizes impediram-no de ser concluído. Afinal, estamos falando de miríades de itens comerciais debaixo da proteção tarifária dos países que os produzem, na forma do instituto da "barreira alfandegária". Para a Romênia, é uma honra estar à frente da Presidência da União Europeia, neste momento, sem dúvida histórico e sem dúvida ter contribuído, assim como a Espanha e Alemanha de forma destacada para este desfecho.

Alô Alô Bahia – Qual o impacto desse acordo na vida dos brasileiros? E dos baianos?

Antonio Peres Júnior - Em termos práticos, vai da possibilidade, por exemplo, de se poder tomar um bom vinho espanhol, francês, italiano, ou romeno, por exemplo, à um preço muito mais viável, ao acesso à produtos alimentícios de alta qualidade, hoje considerados "gourmet", cosméticos, roupas, etc., por preços que a classe média não está acostumada a pagar. Isto se dará porque alguns produtos terão as "tarifas zeradas". É dizer, estarão livres de impostos, que são os grandes responsáveis pelos aumentos dos custos dos produtos importados. Para que se tenha uma ideia, há produtos que chegam a custar 150% mais caro no Brasil, do que na Europa, em função desta proteção de mercado, que será gradativamente expurgada. Sendo ainda mais claro, e sem receio de exageros, a qualidade de vida do brasileiro e do baiano melhorará substancialmente, em função de mudanças em seus hábitos culturais de compras que serão experimentados, gradativamente. Por fim, a entrada de produtos europeus, que são sempre submetidos à padrões de qualidade rigorosos, em função de um mercado consumidor exigente e agências reguladoras muito ativas em seu dever de fiscalizar, resultará em um maior esforço dos fabricantes nacionais quanto a qualidade de seus produtos. Resultado: O consumidor ganhará de várias formas!

Alô Alô Bahia - Como a ABRESCCO, instituição de vanguarda que já faz o relacionamento entre Brasil e Europa, se comportará diante desse acordo?

Antonio Peres Júnior - A ABRESCCO tem esperado este acordo, ansiosamente. Afinal, causa umimpacto direto em suas atividades institucionais, comerciais e culturais, na medida em que temos que perceber as consequências colaterais que estão por detrás de qualquer acordo comercial internacional, especialmente desta magnitude: As aproximações culturais, turísticas, industriais e macroeconômicas, em um sentido latu sensu. Sabemos que o turismo eno-gastronômico, por exemplo, movimenta milhões de dólares em países como a França. A oportunidade, pois, será ímpar para o Brasil ser mais conhecido na Europa, por meio de seus produtos, e alterar a taxa vexatória de menos de 7 (sete) milhões de turistas internacionais ao ano, que se equipara a da cidade de Santiago de Compostela, na Espanha, por exemplo. A ABRESCCO, portanto, será ainda mais buscada por investidores e empresários europeus que queiram investir no Brasil e, evidentemente, também por brasileiros que queiram investir e vender seus produtos na Europa. Nos preocuparemos, claro, com o aspecto cultural, que é marca indissociável de nossa empresa, buscando aproximar nossos valores e talentos artísticos da Europa e vice-versa.

Alô Alô Bahia - A Romênia, país em que o senhor é Cônsul, dirige atualmente a União Europeia. Qual a importância desse feito e os impactos específicos para o país?

Antonio Peres Júnior - Primeiramente, é certamente uma honra para a Romênia fazer parte da História, neste momento tão singular do Comércio Exterior e da Diplomacia. Ademais, na condição de atual país Presidente da União Europeia, faz parte de uma forma distinguida desta História. Não bastasse, a Romênia que tem alcançado índices de desenvolvimentos econômicos assustadores, como um PIB de 6,9% no ano passado, poderá disponibilizar os seus produtos aos países do Mercosul, como os seus vinhos de altíssima qualidade, aqui no Brasil pouco conhecidos, recrudescendo a sua balança comercial e aumentando o seu bom desempenho macroeconômico, o que refletirá em seus índices, por certo, sociais positivos. De minha parte, como acabo de ser promovido à Cônsul-Geral da Romênia em Salvador - Bahia, notícia que divulgo em primeira mão, nos meios não oficiais e institucionais, só tenho à celebrar esta feliz coincidência, agradecendo ao nosso diligente e preparado Embaixador da Romênia no Brasil, Stefan Mera, pela confiança, assim como à Romênia, país que represento com muito orgulho.

Alô Alô Bahia - Em termos macroeconômicos e políticos, como isto afeta o Brasil?

Antonio Peres Júnior - O Brasil é uma super potência em agrobusiness e poderá recrudescer a oferta destes produtos na Europa. É por exemplo, o primeiro produtor e exportador de laranja; o segundo produtor e primeiro exportador de frango; o segundo produtor e primeiro exportador de soja; o terceiro produtor e segundo exportador de milho e o maior exportador de carne bovina do mundo. Supõe-se que o Brasil terá um incremento direto em seu PIB, resultante deste acordo, muito expressivo. Em torno de 125 bilhões de dólares, em 15 anos. Os investimentos advindos de empresas estrangeiras poderão chegar a 113 bilhões de dólares, neste mesmo período. Isto quer dizer que o Brasil pode estar vivenciado uma "conjunção astrológica" muito positiva, quando combinados aspectos naturais, como o descobrimento da jazida de gás natural entre Sergipe e Alagoas, com aspectos comerciais internacionais como este importante acordo, o segundo mais e expressivo da União Europeia. É possível que a frase cunhada por Stefan Zweig, de que "o Brasil é o país do futuro", finalmente seja comprovada e constatada por todos nós, em poucos anos! Penso que, sem dúvida, ontem foi uma data, de veras, histórica!

Foto: Divulgação. Siga o insta @sitealoalobahia.

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