Alô Alô Bahia entrevista Malu Fontes

A jornalista e professora de jornalismo da Universidade Federal da Bahia, Malu Fontes, conversou por e-mail com o Alô Alô Bahia  nesta sexta-feira, 06, sobre os desafios da profissão, fake news e muito mais. Confere só!
 
 
 Qual foi o caminho que te levou a ser jornalista e professora universitária?
 
Nunca houve esse tal caminho. Na vida, se eu dei certo ou errado - só os outros podem julgar - foi por sorte ou azar. Tudo foi absolutamente acidental e sem planejamento. No entanto, fico feliz em notar que estou muito além das perspectivas que tinha na infância.
 
Por outro lado, o que me fez ter certeza, mesmo, de que queria ser jornalista, foi a curiosidade que tinha quando, já cursando jornalismo e medicina, frequentei por um tempo a sala de necropsia do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.

Já quanto a ser professora, foi uma opção natural, feita bem mais tarde, que me dá a oportunidade de ler coisas, investigar outras, ter contato com cabeças frescas, alimentar minha curiosidade e ainda sobreviver disso. Na minha vida, nada nunca foi planejado. Não tenho uma história de sonho e foco para contar. Cheguei até aqui com a vida me tangendo, feito gado.
 
Qual o maior desafio profissional que você já enfrentou/enfrenta?
 
Atualmente, acho que é convencer alunos da importância de investirem individualmente em sua formação intelectual. O outro é convencer as pessoas de que as coisas que eu escrevo ou falo não são ataques, críticas ou ofensas pessoais. Elas dizem respeito a fenômenos cotidianos da vida pública.
 
Quais são os valores que te guiam?
 
Meus maiores valores na vida são curiosidade e ironia. Risos. Estética também. Se não tiver um pinguinho de beleza, eu não gosto, não.
 
O que as fake news representam para os profissionais do jornalismo?
 
Representam uma ameaça grave para a reputação do campo, para a existência e sobrevivência da profissão. Esse movimento só se estancará quando o leitor aprender a avaliar e selecionar o que ler e em que acreditar. Mas isso vai de encontro ao movimento dos últimos anos, em que a tônica é ler menos, ler mais rápido e estar sempre cada um na sua bolha das redes sociais.
 
O que ainda te choca e o que ainda te entusiasma enquanto profissional da comunicação?
 
O que me choca é a falta de interesse de grande parte dos profissionais da área em construir uma sólida formação intelectual, social, política para escrever e opinar, já que é esse o nosso trabalho. O que me entusiasma é o prazer, como professora, de ver nascer, a cada semestre, alguns alunos brilhantes.
 
No seu trabalho você tece comentários e análises sobre diversos assuntos, sendo considerada, muitas vezes, uma pessoa polêmica. Qual é a responsabilidade e as consequências de falar o que se pensa em meios de grande repercussão?
 
A maior consequência disso é a minha consciência cotidiana de que só posso fazer isso por conta da liberdade intelectual e política que a Universidade me dá.
 
A sua profissão já lhe rendeu algum tipo de problema?
 
Vários. O maior deles foi virar personagem em grupos de WhatsApp da Polícia Militar da Bahia, quando fui uma espécie de meme, por conta de um texto que escrevi sobre a chacina do Cabula.
 
Se pudesse deixar apenas um ensinamento aos seus alunos, qual seria?
 
Não gosto de achar que aprendi o suficiente para dar ensinamentos. Mas se pudesse dar um conselho seria para que eles adotassem o hábito da leitura como uma devoção cotidiana. Para quem é jornalista ou quer ser, ler é mais importante que rezar.
 
Bate-bola
 
Salvador
Onde virei gente
 
Machismo
É uma patologia crônica e mata. Muito.
 
Deus
Cada um tem o seu.
 
Família
É raíz, mas você sempre pode escolher a sua.
 
Internet
A tradução do Aleph (do conto de Jorge Luis Borges).
 
Malu por Malu
Ai de mim se não fosse eu.
 
Foto: Reprodução. Siga o insta @sitealoalobahia.
 
 

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